A
Religião das estrelas
O que John
Travolta, Tom Cruise, Michael Jackson, Juliette Lewis, Anne
Archer e Lisa-Marie Presley têm em comum? Além da fama e do
dinheiro, são adeptos da mesma religião: a Cientologia, cad a
vez mais famosa entre os artistas de Hollywood. De onde surgiu?
O que ensina esse movimento? Por que as pessoas estão dispostas
a gastar grandes somas em dinheiro para participar dos seus
cursos? Será que os ensinos da Cientologia são compatíveis com a
fé cristã? O presente artigo tenciona responder a essas e outras
questões.
Polêmica em torno de seu fundador
Fundada
em 1954, no Estado da Califórnia (EUA), o idealizador dessa
denominação é Lafayette Ron Hubbard (1911-1986), filho de um
comandante da marinha norte-americana. Segundo publicações da
Cientologia ele seria formado em engenharia civil, com
especialização em física nuclear, pela Universidade George
Washington. "No entanto, os registros da escola revelam que ele
cursou apenas dois anos, sendo que o segundo em regime
probatório, tendo sido reprovado em física. Afirma-se também que
ele teria Ph.D conferido por uma tal Universidade Sequoia da
Califórnia, embora não haja provas de que exista uma escola
superior com esse nome na Califórnia, qualificada para conceder
títulos de doutorado".1
Hubbard se consagrou nas décadas de 30 e 40 como um prolixo
escritor de ficção científica, chegando a escrever cerca de
setenta e oito novelas desse gênero e outras obras. A biografia
de Hubbard não é a das mais confiáveis, pois alguns de seus
familiares resolveram romper com a Cientologia e emitiram
depoimentos sobre Hubbard. Para seus seguidores, esses
depoimentos não são aceitáveis, porque, segundo afirmam, faltam
com a verdade. Entretanto, uma das palavras mais duras ditas
sobre Hubbard veio de Ronald DeWolf, um de seus cinco filhos.
DeWolf disse que seu pai era "um dos maiores trapaceiros do
século".2
Desde pequeno, Hubbard costumava viajar com seu pai aos países
do Oriente, o que despertou o seu interesse por diversas
culturas e crenças. Mais tarde, estudou engenharia e física
nuclear. Em 1950, ele publica o livro "Dianética: a Ciência
moderna e a saúde mental"3 , que se tornou uma autoridade da
Cientologia. Em 1959, mudou-se para a Inglaterra e, devido à
forte oposição às suas idéias, deixou-a em 1966, passando a
viver a bordo de um navio de 300 pés chamado Apolo, cercado de
discípulos. Em 1967, começou a dirigir a Sea organization (
"Organização do mar"), sua congregação religiosa dentro da
"Igreja da Cientologia". No ano de 1975, Hubbard voltou aos
Estados Unidos, onde passou a levar uma vida cada vez mais
discreta e retirada do público, inclusive de seus familiares.
Foi então que começaram a surgir rumores sobre a eventualidade
de seu falecimento. Ronald DeWolf entrou com uma petição
judicial, num tribunal do Estado da Califórnia, para ser nomeado
procurador dos bens do pai, alegando que ele havia morrido.
Todavia, o tribunal descobriu que Hubbard estava vivo, vindo a
falecer dez anos depois, mais precisamente em 1985, deixando
mais de seis milhões de adeptos no mundo inteiro.
A doutrina da Cientologia
A
palavra Cientologia, inventada por Hubbard, vem dos termos
latinos scio, que significa conhecer, e logos, razão. Para os
cientólogos, a Cientologia é uma religião cujo objetivo é
"estudar o espírito, entender a relação de cada um consigo
mesmo, com o universo e com outras formas de vida. É uma
religião, uma sabedoria e uma ciência". Na verdade, trata-se de
uma corrente de pensamento filosófico-religioso mesclada a
técnicas psicoterápicas e doutrina budista.4 Segundo o próprio
Hubbard, a religião criada por ele deve despertar no discípulo a
consciência de que ele é imortal. É uma mistura de conceitos
tirados do hinduísmo e das tradições cabalísticas. A Cientologia
serve de base para uma série de técnicas como a psicanalítica
(Dianética), e promete aos seus adeptos melhorar sua capacidade
de comunicação e diminuir seus sofrimentos, ensinando-o a "lidar
com as pessoas e seu meio".
Fundamentos básicos:
O homem
é basicamente bom, composto de três partes: corpo, mente e
espírito. É um ser imortal. Sua experiência vai muito além de
uma só vida. Sua salvação depende de si mesmo, de seus
semelhantes e de sua relação com o universo.
O corpo é um componente indesejado do ser humano.
A mente humana é limitada e não permite ao indivíduo tomar
consciência de que ele é destinado a sobreviver . A mente é o
sistema de comunicação entre o Thetan e o mundo ambiente.
O espírito (na Cientologia, Thetan) é onisciente e imortal e,
através da pista do tempo, percorre várias vidas. O espírito é
tudo aquilo que você traz de bom e de ruim desta e de outras
vidas. No início, todos os espíritos eram perfeitamente felizes
num eterno presente, mas acharam que era uma situação
aborrecedora e foi assim que, "para brincar", criaram o
universo. Mas se tornaram vítimas do seu próprio "brinquedo",
esquecendo-se de que o mesmo fora criado por eles.
A teoria na prática
Através
de sessões da Cientologia (auditing - audição), a pessoa passa
por sete graus de purificação para libertar-se dos engramas
(cicatrizes). No final desse processo, o adepto sai do estágio
pré-claro para o claro. Isso, porém, é apenas a primeira etapa
da purificação. A segunda é chamada de Operating Thetan
("Espírito operativo", o qual passaremos, a partir de agora,
usar apenas as iniciais EO, quando nos referirmos
a ele) que, por sua vez, compreende oito degraus. Nesta segunda
grande fase, o Thetan passa a entender que o mundo visível não é
uma realidade plena, mas, sim, aparente, e ele (o espírito) já
não depende do universo que o cerca: "Uma das mais notáveis
qualidades de um Thetan Operacional é a imortalidade pessoal e
consciente e a liberdade relativamente aos ciclos do nascimento
e da morte".5
Os cientólogos garantem que um EO pode praticar a
exteriorização, ou seja, vaguear com o espírito "fora" do corpo.
Nesse estágio, raramente adoece, é menos propenso a acidentes,
tem memória total, QI superior a 135, imaginação criativa,
vitalidade extraordinária, personalidade magnética,
autocontrole, entre outras coisas. Entretanto, quando a morte
vem, o Thetan vai para um lugar de descanso (Marte ou Pirinéus,
segundo alguns), até que lhe seja atribuído um novo corpo. Um
dos aspectos curiosos da Igreja da Cientologia é o fato de que
seus membros, sem nenhuma objeção, podem pertencer a outras
religiões ao mesmo tempo em que proclamam a reencarnação do
espírito, doutrina que se choca com a de outras crenças.
Os degraus finais desta fase (que vai do EO-1 a EO-5, além de
outros EOs) são mantidos em segredo pela Cientologia. Os claros
que chegam a esse estágio não podem levar os textos para fora
das instalações da Igreja e muito menos têm o direito a cópias.
Segundo uma reportagem do Washington Post, de 19/08/95, dados
recolhidos num tribunal de Los Angeles mostram que os membros
que participam dos cursos nas instalações especiais da Igreja
têm de aceder com uma zona de acesso restrito, sendo escoltados
por seguranças até uma sala fechada, onde podem consultar os
textos, mas tudo isso vigiados por câmaras de vídeo. Apesar de
todas essas medidas extraordinárias de segurança, críticos e
antigos adeptos da Cientologia têm conseguido escapar ao cerco e
distribuído os textos secretos da seita (o que leva a Igreja a
tomar certas medidas).
Um dos cursos secretos que demonstram a pura fantasia dos
ensinos da Cientologia é o EO-3, que cobre supostos
acontecimentos de 75 milhões de anos atrás. Nesse período, teria
ocorrido um problema de superpopulação na "Federação Galática"
(composta por 76 planetas), e o seu oficial Xenu teria sido
escolhido para resolver o problema. Aparentemente, Xenu decidiu
"congelar" milhões de seres e trazê-los à terra, mais
precisamente no Havai e Las Palmas, onde as explosões nucleares,
provocadas por oito vulcões, restauraram somente os espíritos
dos exterminados. Os seres humanos seriam compostos por esses
espíritos (e por alguns maus espíritos, os Body Thetans), e
Xenu, capturado e aprisionado pelo seu crime. Quem sabe seja por
isso que a capa do livro "Dianética" tem a imagem de um vulcão.
Ao que tudo indica, todas essas coisas não passam de uma versão
simples de alguns dos conceitos da Cientologia. Seus adeptos
contam com grandes e numerosos volumes de literatura para que
possam expandir-se nessas "ficções científicas".
A Cientologia e o cristianismo
Embora
haja por parte dos cientólogos considerável esforço em conciliar
os ensinos de Hubbbard com o cristianismo (como se vê em
diversas de suas publicações, como, por exemplo, a brochura
intitulada Cientologia e a Bíblia), a verdade é que existe um
enorme disparate entre a Palavra de Deus e os ensinos de
Hubbard. Vejamos alguns:
DEUS
Devido
ao seu caráter eclético, a Cientologia tem procurado, nos
últimos anos, assim como a Maçonaria, designar Deus simplesmente
como "Ser supremo", "Força de vida", a fim de facilitar a
entrada de pessoas de qualquer segmento religioso. Adotam,
ainda, a posição politeísta: "Existem deuses que estão acima de
todos os outros deuses, e deuses além dos universos".6 Em toda a
Bíblia encontramos uma afirmação inflexível a favor do
monoteísmo e da singularidade do Senhor DEUS (Is 43.10,11;
44.6,8; 45.5, 21,22). O apóstolo Paulo é muito claro e enfático
ao afirmar que, no que diz respeito ao mundo, "há muitos deuses
e muitos senhores, todavia, para nós há um só DEUS, o Pai de
quem são todas as cousas e para quem existimos; e um só Senhor,
Jesus Cristo" (1Co 8.5,6).
O lugar de Cristo
Hubbard
formou o pensamento da Cientologia sobre Jesus Cristo tomando
emprestado o mesmo ensino do Budismo, do Hinduísmo, do Taoismo e
do Judaísmo: "teoria moral", que defende a idéia de que Jesus é
apenas um exemplo de fé, de moral e de conduta. "Nem o senhor
Buda e nem Jesus Cristo eram 'espíritos operativos' (do nível
mais elevado), de acordo com as evidências. Eram apenas uma
sombra limpa acima".7. A Bíblia proclama que Jesus é o Filho de
DEUS, o único mediador entre DEUS e os homens. Em todo o
registro da vida do Senhor Jesus Cristo em suas palavras e
ações, encontramos sua singularidade. No livro de Atos, Ele é
chamado, muitas vezes, de o "Santo", o "justo" ( Is 9.6; Jo 1.1,
18; 8.58; 20.28; 1Jo 5.20; Fp 2.6; 2Pe 1.1; Hb 1.8-12; Tt 2.13;
Rm 1.3,4; 1Tm 2.5; 1Pe 2.22; 1Jo 3.5; Hb 7.26; At 2.27; 3.14;
4.30; 7.52; 13.35).
Hubbard fez várias declarações infundadas sobre Jesus. E uma
delas foi que "Jesus era membro da seita dos essênios, que cria
na reencarnação".8 Os essênios9 tinham um sistema de vida
profundamente ascético, alimentavam-se frugalmente e possuíam um
"Manual de Disciplina" que estabelecia regras para a vida da
comunidade quanto ao que se podia comer ou não. Não aceitavam o
sacrifício de animais. Impunham o celibato para seus membros,
entre outras crenças. Basta uma leitura imparcial das Sagradas
Escrituras para vermos que Jesus não era um "essênio". Jesus não
costumava se apartar do povo, chegando ao ponto de ser acusado
pelos judeus daquela época: "Veio o Filho do Homem, que come e
bebe, e dizem: Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de
publicanos e pecadores!".
Os essênios não criam na ressurreição do corpo. Não podiam
harmonizar a idéia de um espírito puro reunido a um corpo de
substância material, já que esta era má. Ao contrário, Jesus
ensinou claramente que lhe era necessário sofrer muitas coisas
e, por fim, ressuscitar: "Ao descerem do monte, ordenou-lhes
Jesus que não divulgassem as coisas que tinham visto, até o dia
em que o Filho do Homem ressuscitasse dentre os mortos" (Mc
9.9).
Jesus se opôs à reencarnação (Jo 9.1-3) e ensinou a
impossibilidade de qualquer pessoa se salvar por ela (Mt 25.34,
41, 46).
O homem não veio de uma "estação de implante" de outro planeta.
O homem é deste mundo, unicamente da terra. O gênero humano
começou na terra, com a criação de Adão.10
Desprezo pelo corpo
Ao
expressar o conceito que tem sobre o corpo, a Cientologia revela
a origem de suas crenças. Ela diz que nós não pertencemos a esse
corpo físico, pois é mau. Esse ensino, no entanto, é idêntico ao
pensamento gnótisco11 . Os gnósticos pregavam um dualismo entre
a matéria e o espírito, advogando que a matéria criada era má. A
encarnação, a ressurreição e a ascensão de Cristo são essenciais
ao entendimento e à fé cristã, pois mostram que não há lugar
para essa torpe dicotomia entre o espiritual e o material. O
cristão aceita o fato de que corpo, além de criação de DEUS, é
habitação do Seu Espírito (1Co 6.19). Somos instados a
glorificar a DEUS com o nosso corpo (1Co 6.20).
Tiago 2.26, diz: "...o corpo sem espírito é morto...". A
formação do homem, desde a criação de Adão, demanda um corpo,
bem como um espírito, para que ele fosse uma "alma vivente" (Gn
2.7).
O caminho da salvação
Como
vimos, a Cientologia crê que o homem é "basicamente bom", "sem
pecado". Portanto, segundo afirmam, "é desprezível e
completamente abaixo de todo desprezo falar para um homem que
ele tem de se arrepender, que ele é mau".12 Na visão da
Cientologia, o homem tem apenas cicatrizes (Engramas), e é
justamente isso que o impede de descobrir e exercitar "seu poder
inerente".
À medida que a pessoa se submete às sessões de "audição"13 , em
tese ela estará purificando sua mente dos ferimentos e das
chagas que tenha contraído em suas existências anteriores à
atual, a fim de chegar a uma conscientização de sua divindade.
Contrastando essa doutrina absurda, Jesus Cristo ensinou que o
homem tem um grave problema: o do pecado, e está incapacitado de
resolvê-lo por si mesmo. Jesus disse que o homem é mau por
natureza (Mt 12.34; 7:11). Falou, ainda, que do interior do
homem procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios,
prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias (Mt
15.18,19). Seu primeiro sermão foi uma exortação ao
arrependimento (Mt 4.17). A pregação de João Batista (Mt 3.2),
dos Doze (Mc 6.12), de Pedro no Pentecoste (At 2.38) e de Paulo
(At 17.30; 26.20) continha mensagens com forte apelo ao
arrependimento para que houvesse remissão de pecados. A mensagem
do arrependimento deveria ser levada por todo o mundo (Lc
24.47). Nossos irmãos, num passado não tão distante, compuseram
uma magistral definição de arrependimento que os cientólogos
deveriam atentar. Vejamos:
"Vasos rotos"
Os
cientólogos precisam ouvir a mensagem do evangelho da graça do
Senhor Jesus Cristo. Precisam ser despertados do fascínio do
"budismo tecnológico" e romper com esses "vasos rotos" (Jr
2.13), inúteis e vazios, sem água, devendo trocá-los pela fonte
da vida, da qual fluem rios de água viva (Jo 4.14).
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