Comentário sobre Mateus 10:1-15
Sandra
Mara Oliveira
Nas traduções clássicas o
texto encontra-se assim: “Chamando
a si os seus doze discípulos, deu-lhes poder sobre os espíritos
imundos, para os expulsarem e para curarem toda sorte de doenças
e enfermidades.” (Mt
10:1)
Na tradução em hebraico: “Ele
chama seus doze adeptos; e lhes dá autoridade sobre os sopros
contaminados, para expulsá-los, e para curar toda doença e toda
enfermidade.”
O universo é
cheio de sopros e de espíritos benéficos e maléficos. Eles
são a causa de toda enfermidade e de toda doença. Eles
estão, em determinados lugares bem estratégicos, cujo objetivo é
desviar, e impedir o homem de conhecer a Palavra libertadora do
Eterno.
Eles estão situados nas
encruzilhadas, (duas vias que se cruzam) das grandes correntes
religiosas, ou seja, os sopros contaminados e os contaminadores,
estão nos movimentos religiosos já estabelecidos, aceitos por
todos ou pela maioria.
Os sopros contaminados são
aqueles que estão contagiados por uma doença ou por um vício. Os
contaminados estão afetados por uma impureza, eles são
transmissores de doenças, porém, eles não têm poder para induzir
ninguém ao erro; a praticar as mesmas atitudes que eles. Mas, o
contato sem restrições, sem limites com os contaminados,
estabelece automaticamente a impureza ou vício, por via de
conseqüência, levando ao erro.
Os sopros contaminadores são
aqueles que além das impurezas que carregam, eles possuem poder
sobre outros, esse poder é o poder da persuasão.
Os contaminadores têm a
capacidade de induzir muitos e muitos ao erro. Podemos
compará-los ao movimento rápido de águas ou de qualquer outro
líquido como uma correnteza que arrasta multidões ao engano.
Além dos contaminados e dos
contaminadores, existia na época, nas camadas mais simples da
população, crenças
vivas que outros povos trouxeram, e a população se defendia
com amuletos, fórmulas mágicas, exorcismo ou encantamentos. Os
sopros benéficos e os sopros maléficos são uma realidade, porém,
é o Eterno que os criou, e também quem governa, decide e
controla tudo e todos.
Na realidade, a crença de
Israel chega na época de Yeshua, a um verdadeiro dualismo (dualismo
é todo sistema religioso ou filosófico que admite dois
princípios opostos como: matéria e o espírito, o corpo e a alma,
o bem e o mal). Esse dualismo não é judaico em sua
origem, pois os judeus vêm o homem como um todo “nephesh” (ser); e
não corpo e alma, (apesar do corpo e da alma serem uma
realidade) para
não admitir dois princípios.
Eu creio, que este zelo
judaico é tremendamente benéfico, pois evita muitos desvios;
vejamos: O
dualismo tem sua fonte no “Masdeísmo
Zoroastriano”.
O Masdeísmo é uma religião da
Pérsia antiga, que foi revelada no séc.
VIII a.C. por “Ashura
Mazdá” deus do
bem, seus ensinamentos estão contidos no “Avesta”.
Esse é o nome dado ao
conjunto dos textos “masdeístas” e
é o livro sagrado dos antigos persas. Zoroastro ou Zaratustra é
o formador da religião iraniana séc.
VIII a.C. Foi
Zoroastro que instituiu a casta dos magos e mágicos, que
influenciou profundamente a religião da Pérsia.
Quando Yeshua chamou os seus
doze adeptos para enviá-los, Ele sabia que os povos estrangeiros
que os dominaram, como a dominação persa, trouxeram todas essas
influencias malignas, e a população foi muito atingida. Diante
desta realidade cruel, com um paganismo reinante é que Yeshua,
com toda prudência chama os seus adeptos para dar-lhes “...
autoridade sobre os sopros contaminados...”. (Mt
10:1)
As Escrituras nos ensinam que
a primeira atitude de Yeshua é conferir aos Seus adeptos
“autoridade”. Autoridade
é um poder legítimo, é o direito de administrar em benefício de
todos.
De frente com o mundo pagão
resistente, porém, decadente. Yeshua e o povo judeu tinham
consciência de sua mais profunda “vocação”, a de ser:“O
sal da terra” (Cf
Mt 5:13), um povo que possuía a “bérith
mélah” (Aliança
de Sal).
A Torah nos ensina que esta é
uma aliança que o Eterno não pode romper. “Todas
as ofertas sagradas que os filhos de Israel oferecem ao Senhor,
dei-as a ti, a teus filhos e as tuas filhas contigo, por
estatuto perpétuo. É a aliança perpétua de sal perante o Senhor
para ti e para tua semente contigo.” (Nm
18:19)
Até o ímpio rei Abias, (Cf
I Rs 15:17) cujo
reinado curto, de apenas três anos, sabia que a “bérith
mélah” não
poderia ser rompida. Assim ele fez lembrar a Jeroboão, que o
Eterno garantiu amizade, pacto perpétuo com Davi e seus
descendentes. “Pôs-se
Abias em pé no alto do monte Zemaraim, que está nas montanhas de
Efraim, e disse: Ouvi-me Jeroboão e todo Israel: Não vos convém
saber que o Senhor D’us de Israel deu para sempre a Davi a
soberania sobre Israel, a ele e a seus filhos por uma (Aliança
de Sal).” (II
Cr 13:4-5)
O sal foi escolhido para
simbolizar o povo do Eterno, porquê?
O Sal é um fogo arrancado
das águas do mar, e que, ao mesmo tempo é puro
no mais elevado grau.
Ele conserva a comida,
protege-a contra a putrefação. Sua virtude protetora e
purificadora faz do sal um condimento fisiologicamente
necessário à vida.
Porém, ele é hostilidade,
resistência, empecilho, estorvo e dificuldade para tudo que
espiritualmente está corrompido, deformado, danificado e
estragado. Assim podemos entender que os apóstolos irão para
cumprir o seu chamado, revestidos de poder legítimo, e como “...
Sal da Terra...”.
“Eis
os nomes dos doze apóstolos...”. Yeshua
convoca “doze” porque Ele chama-os segundo o número dos filhos
de Jacó, e das tribos de Israel.Apóstolo significa “enviado”,
entende-se que é aquele que faz serviço especial em nome, e pela
autoridade de quem o envia.
Deveria ser óbvio para nós,
com base nessas qualificações, que não
deve haver transferência do ofício apostólico para terceiros, ou
seja, o ofício não é
passado de uma pessoa para outra.
Não devemos aceitar que
uma autoridade apostólica, ou qualquer organização religiosa
venha nomear ou dar poderes de “enviado” a alguém.
Irmãos, aqueles que agem
assim, estão inventando doutrinas novas, completamente
contrárias as Sagradas Escrituras, pois, a
sucessão apostólica é um dogma humano, não é doutrina da “Brit
Chadashá” (Novo
Testamento). Porém, a Bíblia diz que outros (além dos doze) têm
sido e foram chamados como apóstolos, como é o caso de Paulo e
Barnabé.(Cf At 14:14)
O ofício apostolar não ficou
restrito, limitado aos doze enviados. Ele estendeu-se à Igreja
como fundamento dela. “Edificados
sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, sendo o próprio
Yeshua HaMashiach a principal pedra angular.” (Ef
2:20)
Portanto “o enviado” é aquele
que é revestido de poder, conferido pelo Eterno, e não por
homens. “E
Ele mesmo deu uns para apóstolos...” (Ef
4:11)
“Yeshua enviou este doze, e lhes ordenou: Não ireis pelo caminho
dos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos.” (Mt
10:5)
Temos aqui um termo que
possui dois aspectos ou valores diferentes, um termo
ambivalente. “...
estrada dos goîms...”. A palavra estrada no hebraico
significa ao mesmo tempo “estrada” ou a maneira de viver, e os
costumes pagãos. Yeshua limita a missão dos apóstolos ao
território da Galiléia, em terras de Israel, cumprindo o que o
profeta disse: que Ele havia sido enviado para a casa de Israel. (Cf
Jr 31:33)
Na Galiléia havia numerosa
população, ainda
que estivesse sobre influência dos judaizantes, era na
realidade misturada, pois, vários estrangeiros procedentes de
terras vizinhas, estavam ali agregados, seguindo o costume do
povo judeu. Aos olhos dos habitantes da Judéia, os galileus eram
sangue misturado, mais ou menos suspeitos.
Vamos conferir, para
entendermos melhor, o diálogo entre Filipe e Natanael.
(Cf Jo 1:43-47)
Por isso, o
profeta Isaías a chamou de: “Galiléia
das nações.” (Is
9:1)
Mais tarde, Yeshua enviou
setenta homens aos pares, para ministrar na Galiléia. (Cf
Lc 10:1-24). Esta foi à última viagem a Galiléia.
Yeshua sabe, que um rebanho
sem pastor é presa fácil dos animais ferozes. “Ide
às ovelhas perdidas da casa de Israel: E, indo, pregai, dizendo:
O reino dos céus está próximo.”(Mt
10:6-7)
A natureza das ovelhas
demonstra que elas têm pouquíssima iniciativa, e assim sendo,
elas tendem a perder-se ou ser guiadas erradamente com grande
facilidade. Estas debilidades tornam as ovelhas incapazes de
defender-se. Assim, podemos analisar, o quanto o homem é
moralmente fraco e depende completamente do Eterno.
“Curai os
enfermos, limpais os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai
os demônios, de graça recebestes, de graça dai.” (Mt
10:8)
A ordem é dada aos enviados “...
dai gratuitamente”. Porque,
os poderes especiais que receberam para realizar curas, expelir
demônios, ressuscitar mortos, foram dados de graça, pela graça
do Eterno. (Cf
I Co 9:14) (II Co 11:7)
“Não leveis
ouro, nem prata, nem cobre, em vossos cintos; nem alforje para o
caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem bordão; pois digno
é o trabalhador do seu alimento.” (Mt
10:9-10)
A capacidade de receber a
palavra do enviado, está
relacionado diretamente ao desinteresse do anfitrião, quando
este recebe as pessoas em sua casa. Ele
deve recebê-las privando-se de lucros, sem olhar que a
hospitalidade no Oriente é quase sagrada.
O anfitrião encontra-se
com o “enviado” que está de mãos vazias, não tendo nenhuma
bagagem além da Fé.
Quando isto acontece, a união é perfeita, pois, tanto o enviado,
quanto aquele que recebeu a palavra do Eterno, participam do
prazer sobrenatural, do gozo último que causa no homem a chegada
do reino de D’us.
Mas, só participará desse
amor sobrenatural, aquele que vive em uma nudez perfeita; sem
ouro, sem prata, sem bronze, livre de qualquer vínculo.
O enviado
por direito, receberá o seu salário de qualquer maneira. A Torah
garante.
(Cf Dt 25:4) (I
Tm 5:18)
Tradução em hebraico: “...
sim o trabalhador vale o seu alimento.”
Vejamos como Yeshua confirma
a Torah. “Ficai
na mesma casa, comendo e bebendo do que eles tiverem, pois,
digno é o obreiro do seu salário. Não andeis de casa em casa.”
(Lc 10:7)
Para ser um servidor de
Elohîm, é necessário atingir um desapego perfeito.
O anúncio do
reino, não deve tornar-se fonte de ganhos. Esta proibição
encontra-se em:
(I Tm 6:5-8) (I Pd 5:2)
“Ao entrardes
numa casa, saudai-a se a casa for digna, desça sobre ela a vossa paz (shalom)...”. (Mt
10:12-13a)
A saudação
verbal corresponde ao dom real da Paz, aquele a quem ela é
feita. A palavra Shalom é por si só criadora de valor. Ela não
constitui apenas uma fórmula de saudação, como também não
significa somente ausência de guerras. “Shalom” é
um estado de quem está completo, cheio interiormente e
exteriormente, permitindo assim o amor resplandecer.
É por isto que Yeshua ordena
aos seus adeptos: “...
se a casa não for digna, torne para vós a vossa paz.” (Mt
10:13)
Se a casa não merecer esse
estado de plenitude que o enviado propõe, “...
saindo daquela casa ou cidade, sacudi o pó dos vossos pés.” (Mt
10:14)
Yeshua comparou o juízo
que está reservado para aquele que resiste à vontade do Eterno,
a Sodoma e Gomorra. (Mt
10:15)
Sodoma e
Gomorra eram cidades terrivelmente pervertidas, abusavam
daqueles que os visitavam, por isso o Eterno, retirou Ló, e fez
chover fogo e enxofre do céu.
(Cf Lc 17:29-30) (Jd 7)
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